[Resenha] Sono - Haruki Murakami
"Um conto que faz o leitor refletir sobre muitos momentos de sua vida. Será que realmente estamos acordados, ou vivemos em um sonho quase eterno?"
(Jefersson de Campos, Escritor Paranaense)
Sinopse
Ela era uma mulher com uma vida normal. Tinha um marido normal. Um filho normal. Ela até podia detectar algumas fissuras nessa vida aparentemente perfeita, mas nunca chegou a pensar seriamente nelas. Até o dia em que deixou de dormir. Então o mundo se revelou. Um mundo duplo de sombras e silêncio; um mundo onde nada é o que parece. E onde ela não pode mais fechar os olhos.
Sobre o Autor
Haruki Murakami, ou simplesmente Murakami, nasceu em 12 de janeiro de 1949, na cidade de Quioto (Kyoto) no Japão. O autor além de ter recebido inúmeros prêmios, possui diversos livros traduzidos para mais de 50 idiomas, sendo algumas de suas principais obras: Caçando Carneiros, Crônica do Pássaro de Corda, Kafka à Beira-Mar e 1Q84.
Murakami enfrenta diversas críticas oriundas de críticos japoneses que, não classificam sua obra como "literatura japonesa".
O autor também frequentou a Universidade de Waseda, em Tóquio, onde realizou estudos teatrais. Além do teatro, Murakami possui paixão pelo jazz e pela música clássica.
Uma das características marcantes da obra de Murakami é de quase sempre aparecerem elementos sobrenaturais, bem como o fato do autor deixar partes em aberto em suas obras... E com o conto Sono, não foi diferente.
Vivemos Acordados ou em um Sono Eterno?
Sono foi a primeira obra escrita por Murakami, que tive o prazer de ler, logo, também foi minha primeira experiência com a literatura oriental, entretanto, concordo que Murakami tem um estilo muito ocidental na sua escrita, porém, respeitarei aqui sua origem nipônica, por entender que além de oriental de nascimento, possui algumas peculiaridades na narrativa, que o diferente dos autores ocidentais.
O livro é curto, aproximadamente 120 páginas, contando que a fonte é grande e a diagramação é generosa, bem como por possui imagens, fazem com que a leitura do livro-conto seja realizada de modo muito rápido.
A escrita é fluída, com palavras simples, porém, esse fato não diminui nenhum pouco a obra, muito pelo contrário, torna o texto ainda mais genial e acessível.
No decorrer do conto, acompanharemos uma mulher e sua vida comum com seu marido, dentista, e seu filho menor. O autor não nomeia nenhum personagem, nem mesmo a mulher, personagem principal da trama, não possui um nome. Confesso que isso não me incomodou, pois o livro por ser narrado em primeira pessoa, faz com que tenhamos intimidade com a narradora, e a falta de um nome para ela pouco importa, pois existe uma intimidade entre personagem e leitor e a falta de uma alcunha nem é notada com o passar do tempo.
Como a sinopse menciona (isso não é spoiler) a personagem encontra-se sem dormir, mais precisamente 17 dias sem dormir, nem ao menos um cochilo depois do almoço. Isso ocorre após a mesma ter um "pesadelo", que julga ser real.
A personagem-narradora, conta ao leitor sua rotina antes e após o "pesadelo". A rotina antes era como qualquer outra: acordava, preparava o café, arrumava o filho, esperava o marido e o filho comerem, o marido levava o filho até a escola e depois ia ao trabalho na clínica odontológica, e ela ficava em casa fazendo os afazeres domésticos, preparava o almoço, depois ia nadar e ao shopping. Uma rotina trivial, que por ser rotina, se repetia todos os dias.
Após o "pesadelo", a rotina continuava a praticamente a mesma, porém, com algumas alterações, principalmente deixando de sentir "prazer" em algumas coisas e retomando hábitos antigos, ainda dos tempos de juventude.
Entretanto, com o passar do tempo, percebemos que a falta de sono passa a afetar a personagem no que tange sua visão de mundo. Apesar de estar à 17 dias sem dormir, nota-se que fisicamente ela encontra-se maravilhosamente bem, porém, passa a fazer questionamentos sobre seu próprio modo de vida, além de algumas reflexões sobre o que seria a morte.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
(pode conter pequenos spoilers)
Apesar de ser um livro curto, o mesmo, no meu ponto de vista, não é atrativo nas primeiras páginas, o motivo: não estava interessado em saber do dia a dia de uma pessoa, que nitidamente tem uma vida idêntica ao dia a dia das famílias felizes de filmes e algumas da literatura. Porém, com o passar do tempo, percebemos que o fato da personagem não dormir, faz com que sentimentos perversos passem a aflorar em sua cabeça. Um desses sentimentos é a sua reclamação pelo fato de não ter motivos para reclamar do marido, sim, ela buscava algo no marido para poder reclamar, e a falta disso, lhe incomodava, porém, encontrou: Achava o marido feio. O mesmo sentimento passou a demonstrar para com o filho, dizendo que provavelmente não amaria o filho no futuro, por um determinado motivo que ela explica. (Para saber, tem que ler o livro) .
Um dos pontos altos é o capítulo 4, quando a personagem faz uma pesquisa sobre sono, insônia, e a metáfora passa a aparecer. Será que o autor fala no livro sobre sono no verdadeiro sentido da palavra, ou, o autor buscou realizar uma crítica social?
Em um dos momentos, a personagem menciona que descobriu em um livro que o sono serve para que possamos "esfriar o nosso motor" e organizar nossa rotina, que já estabelecemos. O sono serviria para que essa rotina se assenta-se e fazer com que passamos a realizar determinadas coisas no automático. A crítica vem ai: Será que todos nós não estamos sonhando, e tornando nossas vidas uma rotina? Será que não está na hora de ficarmos sem dormir e buscar fazer as coisas que queremos, sem intervenção de ninguém? Será que não devemos ficar dias sem dormir e passar a dominar a nossa vida, sem que sejamos dominados por outras pessoas?
A forma com que o autor descreve e a maneira com que a personagem faz outras ligações, principalmente entre a vida e a morte, é algo incrível.
Um ponto que não gostei no conto foi a forma com que o final é construído. Concordo que ao iniciar o último capítulo, o leitor passa a sentir uma agonia, o coração "dispara, tropeça e quase para", porém, existe algo nesse final que me incomodou um pouco, porém, pode ser que ainda não tenha maturidade suficiente para entender as entrelinhas nessa parte.
Por fim, o livro se mostrou uma grata surpresa e certamente lerei outras coisas de Haruki Murakami. Se você ainda não leu o conto Sono ou nada do autor, faça isso, pois o autor merece ser lido.
NOTA
4,5 de 5 joysticks! |
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